Em Angola, as organizações enfrentam um dilema que vai além da eficiência operacional: a necessidade urgente de cultivar lideranças autênticas capazes de inspirar, mobilizar e transformar. O alerta é deixado por Simão Quinhumba, consultor comportamental e coach executivo, que tem trabalhado com empresários e líderes de diferentes setores dentro e fora do país.
Segundo o especialista, o panorama organizacional angolano ainda está marcado por estruturas rígidas e hierárquicas, onde a liderança é frequentemente confundida com autoridade. Essa visão limitada, sublinha, inibe a inovação e dificulta o crescimento sustentável.
“Temos muitos gestores, mas ainda poucos líderes de facto. O poder continua a ser usado mais para controlar do que para empoderar. Isso fragiliza as equipas e retarda a capacidade de inovação”, observa Quinhumba.
Contextos e desafios da liderança em Angola Para o consultor, o contexto nacional apresenta desafios particulares. Entre eles destacam-se:
• Ausência de modelos consistentes de liderança ética e visionária, o que limita referências positivas para os mais jovens;
• Prioridade reduzida ao desenvolvimento humano nas empresas, muitas vezes visto como gasto e não como investimento;
• Cultura organizacional centrada no medo, que compromete a criatividade e a motivação das equipas;
• Baixa valorização da liderança feminina, que ainda enfrenta barreiras estruturais e culturais.
Apesar disso, Quinhumba identifica sinais de mudança. Um deles é o interesse crescente de jovens profissionais em assumir a liderança de forma mais consciente, com base em propósito e responsabilidade social.
“Há um despertar para uma liderança que não se limita ao cargo, mas que busca impacto positivo dentro e fora das empresas. Isso pode ser o motor de transformação do nosso tecido social”, destaca.
A liderança como responsabilidade social Simão Quinhumba defende que a liderança não pode ser encarada apenas como uma competência corporativa. Em Angola, onde os desafios sociais são profundos, a figura do líder deve ser vista como um agente de mudança comunitária e nacional.
“Um verdadeiro líder influencia a família, a comunidade, a igreja e a sociedade. Liderar é uma responsabilidade social. É usar a influência para criar soluções sustentáveis e transformar realidades”, sublinha.
Autenticidade como caminho
Com experiência em mais de 80 culturas organizacionais, Quinhumba reforça que a autenticidade é a chave para enfrentar os desafios atuais. Para ele, o líder deve começar pelo autoconhecimento e pelo equilíbrio emocional, para só depois mobilizar equipas e instituições.
“O maior erro de muitos líderes é acreditar que podem conduzir os outros sem cuidar de si mesmos. A autenticidade exige vulnerabilidade, propósito e clareza de valores”, afirma.
Olhar para o futuro
Ao refletir sobre a realidade angolana, o especialista aponta que o desenvolvimento de líderes autênticos será determinante para o futuro do país.
“O futuro de África depende da qualidade da liderança que cultivarmos hoje. Em Angola, o caminho passa por formar líderes que sirvam antes de comandar, que inspirem antes de exigir e que deixem legados antes de buscar reconhecimento.”
NOTA: A reflexão sobre estes desafios ganha palco no próximo 9 de outubro, no Hotel Alvalade, em Luanda, a partir das 15 horas, com o lançamento oficial do livro “O Líder Autêntico – Viva o Seu Legado”. O evento culminará numa mesa redonda sobre Liderança Autêntica, reunindo vozes do setor empresarial e académico para debater os caminhos de uma liderança mais consciente em Angola