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Sábado, Abril 19, 2025

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“O curioso caso de BM Samuel e a grave hipocrisia do nosso tempo” – Albano Pedro

O encerramento da igreja de BM Samuel parece ser uma medida bem vinda para muita gente. Sobretudo para os seus rivais nas lides religiosas ou até para os que o invejam pura e simplesmente ou ainda para aqueles que simplesmente não gostam da sua maneira de ser e estar como líder religioso. Mas foi certamente catastrófico para os seus milhares de seguidores.

No final da sua alocução anunciando nas redes sociais o encerramento temporário dos seus serviços religiosos ficou claro que muita gente saiu prejudicada. Os trabalhadores automaticamente desempregados. As famílias necessitadas que dependiam da sua ajuda. Os estudantes que tinham as suas propinas pagas por obra da sua caridade. As viúvas, enfim. Ninguém consegue calcular o sofrimento dessas pessoas. O curioso é que muitos dos que festejaram o encerramento da sua igreja não faziam a mínima ideia do quão impactante era a ajuda e a solidariedade que BM Samuel prestava as comunidades que influenciava com o seu evangelho peculiar.

Quase todos sabem que tudo começou com a linguagem pouco polida que usou contra um dos seus fiéis. A partir daí a sociedade reagiu como um fiscal exigente. O estranho é que raramente a sociedade reage tão firmemente contra casos mais graves que acontecem, sobretudo nos casos de corrupção escandalosos, crimes violentos, insultos abusivos, exposições públicas de nudez, devassa da vida privada das pessoas entre milhares de actos de desvario moral e social que assistimos todos os dias ao vivo ou nas redes sociais. O que acontece nestes casos são discussões de aproveitamento político ou de manifestação de mera demonstração de malcriadez de quem alimenta tais debates. Mas raramente chegam a uma condenação quase unânime como no caso do BM Samuel tal como se percebe nas redes sociais.

Quando um amigo trouxe-me a novidade dizendo que achava que BM Samuel mereceu a pesada medida que lhe foi aplicada por ser um líder religioso com linguagem baixa e mal-educado entre outros epítetos e clichés, eu perguntei: Você sabe como era Jesus Cristo relatado na Bíblia Sagrada? Você sabe que amigos tinha? Quem eram os seus seguidores? Que linguagem usava? Ao que se colocou um silêncio meditabundo entre nós. Perante o seu aparente desconhecimento prossegui dizendo que Jesus Cristo só teve a condenação unânime do povo do seu tempo por ter tido uma postura completamente estranha a moral pública da época. Jesus Cristo não respeitava o Sábado tal como os judeus queriam. Jesus Cristo perdoava prostitutas ao invés de ordenar o seu apedrejamento. Jesus Cristo andava com criminosos e corruptos aos quais achava que deviam merecer mais atenção diante do seu evangelho.

Jesus Cristo pregava a salvação aos não escolhidos (gentios) contrariando a doutrina dos judeus que dizia que a salvação era apenas para os descendentes de Abraão. Num episódio de acesso de fúria Jesus Cristo chegou a invadir um templo (igreja) que estava a ser usada por vendedores, apostadores de jogos e outros agentes e expulsou-os com uma atitude de quem estava fora de si. Jesus Cristo ficou furioso e provavelmente muitos nem sabem disso. Inclusive a Jesus Cristo amaldiçoou de morte todos aqueles que violavam as regras de Deus. Há no evangelho de S. Mateus uma longa sessão de maldições aos líderes religiosos da época que não aplicavam os princípios e valores do reino dos céus.

Para os padrões morais da época Jesus Cristo era malcriado, bandido e charlatão. Ou seja, para aquela época Jesus Cristo era um “grego”, um “fora da lei”. Curiosamente os mesmos nomes que BM Samuel está a ganhar de todo o lado.

O meu amigo, que até é católico, não acreditou no que eu disse. Nunca ouvira falar de uma imagem tão devassa de Jesus Cristo e antes de começar a defender o “Santo Jesus” que aprendera na Catequese convidei-o a ler e interpretar as passagens bíblicas que sustentavam a minha narrativa. Depois de algumas horas, a conversa sobre o caso do BM Samuel mudou de tom.

No final Jesus Cristo salvou a humanidade depois de ter sido condenado pela população da época enfurecida com os seus modos e maneiras estranhas de tratar das pessoas e ensinar sobre Deus. Foram os intelectuais e os mais influentes líderes sociais da época que elaboraram as mais violentas narrativas contra Jesus Cristo. Hoje seriam os nossos influenciadores sociais, jornalistas, académico, etc. Muito dos seus algozes tinham beneficiado de milagres, de curas e até de ressurreição. Até mesmo alguns dos seus próprios discípulos o traíram ou negaram na hora da sua condenação. Quase ninguém teve a coragem de defendê-lo como um homem de bem.

No caso de BM Samuel, os seus dependentes perderam a sua ajuda e os seus fiéis encontram-se entregues ao abandono e privados da prática dos seus cultos. Perante essa situação, seria justo que aqueles que condenaram BM Samuel e levaram com ele uma multidão à desgraça, tivessem também a elevação moral (ou a boa-educação) de ajudar essas pessoas. Sobretudo aquelas que agora enfrentam necessidades. Isso sim, seria demonstrar a qualidade moral que exigem de BM Samuel.

Hoje, dia de páscoa, os fiscais da moral pública que até são, em grande parte, cristãos deviam lembrar-se de um dos grandes ensinamentos do próprio Jesus Cristo que dizem seguir: “Aquele que nunca pecou, que seja o primeiro a atirar a pedra”. Apenas para reflexão!

Jurista

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